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quinta-feira, 6 de junho de 2013

ATLETA PERDE TÍTULO MUNDIAL POR CAUSA DE COMEMORAÇÃO

Da Revista Tatame
Foto: Eduardo Ferreira / Tatame
O Mundial de Jiu-Jitsu consagrou campeões na Califórnia, Estados Unidos, no último final de semana, mas uma das finais da faixa preta terminou em polêmica. Ary Farias venceu Gabriel Afonso nas vantagens (3×2), mas não levou o título. A emoção do triunfo fez com que ele corresse até sua equipe na arquibancada, tal qual José Aldo no UFC Rio 2, e isso implicou em uma punição a ele, com vantagem para o adversário, o que lhe tirou a medalha de ouro.

A torcida gritou “falta de respeito”, e foi este sentimento que passou pela cabeça de Aryzinho, que perdeu a oportunidade de conquistar seu primeiro título mundial como faixa-preta.

“Peguei a chave mais dura, fiz um bom campeonato, para acontecer o que aconteceu no final?”, se revoltou Ary, em entrevista à TATAME.

O peso-pluma fez cinco vitórias no torneio, tendo conseguido finalizar apenas um, mas é categórico ao apontar seu adversário mais duro em toda a competição: “O árbitro central da luta final”.

O árbitro responsável por mediar a decisão entre Ary e Gabriel foi Muzio de Angelis, um dos melhores e mais experientes da arte suave. À TATAME, ele explicou a decisão de punir o faixa-preta.

“Desde o ano passado, tiveram alterações na regra e, hoje em dia, sair do tatame é falta grave. Antes, não era. Em 2011, a galera ia na arquibancada direto, então ficaram mal acostumados. No livro de regras, página 24, diz, especificamente, que sair da área de luta antes da proclamação do resultado pelo árbitro dá punição, com vantagem”, explica Muzio.

“Eu sou pago para fazer o meu trabalho, não estou lá para ser amigo de ninguém. Estou lá para cumprir as regras, ponto final. Foi uma luta apertada, onde ele realmente saiu vitorioso, mas deu esse mole”, completa, negando a informação passada pela transmissão oficial da IBJJF, de que o lutador teria sido punido por “comemorar de forma desrespeitosa”.


A explicação de Muzio não convence Ary, que terminou fora do lugar mais alto do pódio.

“O árbitro quis ser a estrela maior do evento, arrancou um desejo pessoal meu. Eles foram ridículos, acharam um jeito para me derrotar, e conseguiram. Espero que eles estejam cientes de que esse foi o maior erro da história do Jiu-Jitsu. Fui comemorar com a minha torcida, aquele era um momento feliz para mim, era o que eu precisava, momento que vi para agradecer aos meus amigos. Eu e o ginásio inteiro ficamos sem entender o que aconteceu”.

Muzio reitera que comemorar é válido, desde que dentro da área de luta. O árbitro, inclusive, concorda com a punição para quem deixa o tatame antes da hora: “Eu acho justo. Inclusive, até agora o Ary não entendeu que ele poderia comemorar. Não estamos preocupados com a comemoração, mas ele não pode sair da área de luta. O cara que ganha título mundial tem que comemorar mesmo, o que ele não pode fazer é sair da área de luta”.

Chateado com a perda do título, Ary também direcionou críticas ao adversário, e recusou colocar a medalha de prata em seu peito no pódio.


“Eu treino para ser o primeiro, consigo ser o primeiro e a organização falta com respeito comigo me tirando esse titulo? O meu adversário não teve a mesma postura do Bruno Frazatto na Seletiva de Gramado de 2011. A história é parecida, mas o Bruno Frazatto e só um, né?”, disse o faixa-preta, lembrando que Frazatto se recusou a ganhar a seletiva por punição ao seu adversário por comemoração.

“Na Seletiva de Gramado, valendo vaga para o Mundial Pro, em Abu Dhabi, ele devolveu a vitória quando o Isaque Paiva foi desclassificado por festejar antes do resultado final. O Frazatto teve uma atitude louvável, considerando que o seu adversário foi melhor que ele naquele dia. A situação é bem parecida”, explica, alfinetando a IBJJF e o campeão, Gabriel.

“O meu adversário sabe que perdeu a luta, mas aceitou o título e teve a postura como se fosse o verdadeiro campeão, comemorando. Isso não é revoltante? Faltou para ele um espírito de samurai, uma atitude de campeão. Ele não precisa ganhar um titulo dessa forma. Ele é um cara bom, não foi o vice-campeão mundial à toa. Todos o aplaudiriam pela atitude de homem se ele tivesse tido, mas, infelizmente, nem todo ser humano é honesto e digno. Eu apenas subi no pódio porque o meu irmão Yuri Simões e meu amigo Davi Ramos pediram, mas minha vontade não era aquela. Não coloquei a medalha de prata (no peito) porque a minha era a de ouro. Eu tinha batalhado para conseguir ela. Eu deixei a medalha de prata com a IBJJF. Talvez eles precisarão dela para as próximas competições”.

Em meio à polêmica da decisão, Muzio explica que, em certos casos, o atleta pode comemorara fora da área de luta. Ele será punido, mas a vitória não mudará de lado.

“Se ele finalizar a luta, pode sair que a punição não vai mudar nada. Mas, depende do placar. Se o atleta estiver no limite das punições, ele pode ser desclassificado mesmo que finalize o adversário. O cara tem que saber o que está acontecendo. A IBJJF quer melhorar o esporte. Antes estava muito bagunçado. Como o cara vence e vai comemorar na arquibancada? Acaba virando palhaçada”.

A frustração de Aryzinho com a Confederação é tanta que ele decidiu reclamar, também, sobre um fato que presenciou no Mundial de 2012, também na Califórnia.

“No ano passado teve um Gracie, que não vou citar o nome porque é falta de ética, que estava com um patch de patrocínios onde não podia colocar no quimono. O Álvaro Mansor e a organização pediram para que ele tirasse o patch porque não poderia colocar em tal parte do quimono. Ele gritou, xingou todo mundo, e disse que não iria tirar porque eram de patrocínio. O que aconteceu? Ele não tirou, xingou todo mundo e não foi desclassificado porque é Gracie. As regra não são para todos? O mesmo Gracie tirou o quimono em outro ano, mas não foi desclassificado. Por que? Ou seja, as regras não são para todos”.

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